Testosterona, seus derivados e libido
A resposta para esta pergunta é sim, porém esta interferência tem aspectos bastante antagônicos.
Se, por um lado, os esteroides anabolizantes, principalmente representados pelo hormônio testosterona e seus derivados sintéticos, podem ter efeito estimulatório sobre a libido, por outro trazem consequências que, em longo prazo, podem reduzi-la, além de outros efeitos deletérios ao organismo que serão listados a seguir:
Efeitos dos anabolizantes no organismo
O uso de anabolizantes pode provocar dependência química e psíquica, assim como outras drogas, ainda provocar disfunções em outros órgãos, como coração, fígado, rins, pele e órgãos sexuais.
Levando em consideração a sexualidade, vamos especificar a ação dos anabolizantes na parte física, comportamental, no sistema reprodutor e o cardiovascular.
O efeito androgênico dos anabolizantes provoca aumento da oleosidade da pele, acne e queda de cabelo, como principais efeitos colaterais, além da masculinização que ocorre nas mulheres, representada principalmente e pelo aumento do clitóris e do timbre vocal. Nos homens podemos ter aumento das mamas, chamado de ginecomastia.
No comportamento, temos um aumento dos transtornos de humor, como depressão, da agressividade e impulsividade, com registros até de aumento da criminalidade e casos de violência, além da dependência química e psíquica, com demandas por doses cada vez maiores, buscando sentir os mesmos efeitos do início do uso, assim como acontece, por exemplo, com uso de drogas como cocaína e crack. Alterações do sono como apneia obstrutiva também podem ser identificados.
No sistema reprodutor temos a inibição da liberação de hormônios chamados gonadotrofinas, que são liberados pela glândula hipófise, e controlam o funcionamento dos testículos e ovários, podendo levar desde distúrbios menstruais, prejudicando a fertilidade nas mulheres até interrupção definitiva da produção de testosterona e espermatozoides nos homens, levando à impotência e também infertilidade, e ainda sintomas do aumento da glândula prostática.
A função sexual está diretamente ligada e dependente da integridade do sistema cardiovascular (coração e vasos sanguíneos), neste caso, o uso de anabolizantes, tanto os similares à testosterona, quanto do hormônio do crescimento, trazem consequências drásticas ao coração e artérias.
No músculo cardíaco especificamente, diversos estudos mostram disfunção, com aumento do tamanho cardíaco, perda de força e desenvolvimento de insuficiência cardíaca no longo prazo.
Já nas artérias, pode ocorrer aumento da pressão arterial, do estímulo a deposição das placas de gordura (aterosclerose) devido a piora do perfil lipídico (colesterol), que levam ao aumento de risco para infarto agudo do miocárdio, AVE (AVC/derrame), além de eventos em membros inferiores e rins. Outra alteração fisiopatológica com o uso da testosterona é o estímulo à eritrocitose, que leva ao aumento da viscosidade do sangue, podendo contribuir para os fenômenos tromboembólicos.
Mais prejuízos do que benefícios
Portanto, a busca pelo corpo ideal, maior vigor físico e melhor desempenho sexual através do uso de anabolizantes, passa a ser contraditório quando temos conhecimento dos efeitos deletérios destas substâncias em nosso organismo em longo prazo. Nos restringindo a sexualidade, alertamos que o uso pode provocar a perda de libido, infertilidade e outras alterações físicas e mentais não desejadas.
Referências:
1- Off-label use and misuse of testosterone, growth hormone, thyroid hormone, and adrenal supplements: risks and costs of a growing problem. Endocrine Practice vol 26 no. 3 march 2020.
2- Compounded Bioidentical Hormones in Endocrinology Practice: An Endocrine Society Scientific Statement. J Clin Endocrinol Metab 101:1318-1343, 2016.
Dr. Emerson Cestari Marino
Médico Endocrinologista
CRM-PR 31.440 - RQE 17.221
Texto revisado pelo DEFA.