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segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Avaliação hormonal dos incidentalomas adrenais

A avaliação das lesões das glândulas adrenais descobertas ao acaso, ou incidentalomas, procura responder duas perguntas:
1- A lesão é maligna?
2- A lesão secreta algum hormônio?
Neste texto, vamos entender como o médico endocrinologista faz para responder a segunda questão.

Imagem: Wikimedia Commons


A grande maioria dos pacientes com incidentalomas adrenais não apresentam manifestações clínicas de excesso de produção hormonal. Uma revisão de diversos estudos compilou dados de cerca de 1800 pacientes. Destes, quase 90 por cento não apresentavam manifestações clínicas sugestivas de alteração nos hormônios da adrenal. O excesso de cortisol (síndrome de Cushing) foi flagrado em 6,4 por cento dos casos. Já a produção excessiva de metabólitos da adrenalina/noradrenalina e de aldosterona, substâncias que podem causar aumento da pressão arterial, foi de 3,1 e 0,6 por cento, respectivamente. Provavelmente a frequência de produção de aldosterona e de síndrome de Cushing subclínica (ou seja, excesso de produção de cortisol sem manifestações clínicas) foram subestimadas nesse estudo.
A produção hormonal excessiva sempre deve ser investigada em pacientes com incidentalomas adrenais, já que em diversas ocasiões os sinais e sintomas não são evidentes, isto é, o quadro é subclínico. 
Vejamos como é feita a avaliação hormonal dos incidentalomas de adrenal…


Feocromocitoma

Feocromocitomas são tumores derivados da camada mais interna das glândulas adrenais, a medula. A produção de metabólitos de adrenalina e noradrenalina por essas lesões pode causar aumento da pressão arterial e episódios de palpitação, suor excessivo e difuso, dor de cabeça, palidez e tremor. Quando o paciente apresenta alta probabilidade de possuir um feocromocitoma, coleta-se sangue para dosagem das metanefrinas fracionadas. Nos outros casos, a dosagem das metanefrinas e catecolaminas pode ser feita na urina de 24 horas.


Síndrome de Cushing

A produção excessiva de cortisol por uma lesão adrenal pode levar a um quadro de síndrome de Cushing. Estes pacientes podem apresentar obesidade no tronco com perna e braços finos, rosto redondo e avermelhado, pele fina e frágil com estrias roxas e largas, acúmulo de gordura formando uma corcova sobre as clavículas e atrás do pescoço, além de fraqueza muscular. Nos incidentalomas adrenais, esta sintomatologia exuberante é pouco frequente. No entanto, pressão alta, alteração nos níveis de glicose e colesterol, além de um risco aumentado de fraturas de coluna podem fazer parte do quadro. O exame visa flagrar se existe secreção de cortisol clinicamente significativa. O exame de preferência é o teste de supressão com 1 mg de dexametasona. A dosagem de cortisol em urina de 24h deve ser realizada também, mas a chance de alteração é maior nos pacientes com sinais e sintomas de síndrome de Cushing.


Hiperaldosteronismo primário

A aldosterona é um hormônio secretado pelas adrenais que faz nossos rins reterem sódio e excretarem potássio. Quando em excesso, a aldosterona causa hipertensão arterial. A avaliação hormonal do excesso de aldosterona está indicada apenas para pacientes hipertensos ou com níveis de potássio baixo, mesmo se o paciente estiver usando diurético (medicação para controlar a pressão arterial que aumenta a perda de potássio na urina). Os tumores produtores de aldosterona também devem ser removidos cirurgicamente, já que o excesso de aldosterona aumenta o risco de doenças cardíacas e acidente vascular cerebral.


Carcinoma (câncer) adrenocortical

Felizmente os carcinomas adrenocorticais são pouco frequentes. Costumam ser grandes e podem secretar qualquer tipo de hormônio esteroide (cortisol, aldosterona, estrogênios ou androgênios). O quadro é muito variável (desde tumores não funcionantes até síndrome de Cushing). As dosagens hormonais devem ser feitas em todos os pacientes com lesão suspeita de malignidade. Devemos investigar síndrome de Cushing, excesso de produção de andrógenos e de aldosterona (somente nos hipertensos).

Referências:
1- The adrenal incidentaloma - UpToDate On Line
2- Fassnacht et al. Management of adrenal incidentalomas: European Society of Endocrinology Clinical Practice Guideline in collaboration with the European Network for the Study of Adrenal Tumors. European J Endocrinol 2016.


Dr. Mateus Dornelles Severo
Médico Endocrinologista
Doutor e Mestre em Endocrinologia pela UFRGS
CRM-RS 30.576 - RQE 22.991

Texto revisado pelo Departamento de Adrenal e Hipertensão.

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