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segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Uso de esteroides anabolizantes: um breve histórico do problema

Uso indevido de esteroides androgênicos, um velho problema

O uso de esteroides androgênicos para melhorar o desempenho físico, ao contrário do que se possa imaginar, é tema antigo na prática médica. Em 1893, um médico idoso chamado Brown-Séquard reportou “um ganho importante de força” após auto injetar um “fluido testicular” desenvolvido em laboratório de animais. Esta descoberta criou bastante entusiasmo e marcou o início da andrologia. Após algum tempo, já na década de 1930, começaram a ser desenvolvidos os primeiros andrógenos sintéticos derivados da testosterona. Desde então, diversos esteroides androgênicos foram sintetizados e aprovados para o tratamento de diversos problemas de saúde, incluindo deficiência de testosterona, caquexia, osteoporose, atraso no desenvolvimento da puberdade e até câncer de mama.



Ganho de massa muscular, as custas de efeitos adversos potencialmente graves

Os derivados sintéticos da testosterona possuem graus variados de atividade androgênica e anabólica, isto é, são capazes de aumentar a massa muscular, queimar gordura e melhorar o desempenho esportivo. Contudo, o uso de esteroides anabolizantes não se faz sem um custo muito alto à saúde. Efeitos adversos são frequentes e incluem toxicidade ao fígado e coração, aumento da viscosidade sanguínea (policitemia) com risco de trombose, aumento das gorduras do sangue (colesterol e triglicerídeos), pressão alta, depressão, crescimento de mamas em homens (ginecomastia), atrofia dos testículos, problemas sexuais e infertilidade em graus variados.


Falta de informação confiável dificulta a abordagem do problema

Como a maioria dos usuários destas substâncias não costuma procurar atenção médica, a literatura científica ainda carece de informações principalmente sobre as sequelas causadas pelo seu uso. Isso é problemático, pois o usuário não vê o médico como alguém com capacidade de fornecer informações apropriadas e acaba por buscá-las na internet ou com outros usuários. Já o médico, por não ter acesso a estudos confiáveis, fica desconfortável em abordar o assunto e acaba por adotar uma postura repressiva. Esta falta de empatia afasta paciente e médico, e o assunto vira tabu.


#BombaTôFora, uma luz no fim do túnel

Com o intuito de melhorar a assistência, prevenindo o uso e tratando as complicações, tanto médicos quanto pacientes devem estar dispostos a dialogar abertamente e a estudar sobre o assunto. Só desta maneira cooperativa, seremos capazes de construir conhecimento apropriado e confiável sobre o uso de esteroides anabolizantes. O projeto #BombaTôFora, apoiado pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, cumpre muito bem esta função.

Referência:
1- Pope HG Jr, Wood RI, Rogol A, Nyberg F, Bowers L, Bhasin S. Adverse health consequences of performance-enhancing drugs: an Endocrine Society scientific statement. Endocr Rev. 2014 Jun;35(3):341-75.

Dr. Mateus Dornelles Severo
Médico Endocrinologista
Doutor e Mestre em Endocrinologia pela UFRGS
CRM-RS 30.576 - RQE 22.991

Texto revisado pelo Dr. Ricardo Meirelles, presidente da Comissão de Comunicação Social da SBEM.

2 comentários:

  1. Muito boa a abordagem sobre o tema " esteroides anabolizantes".
    Somente o trabalho em conjunto dos profissionais da saúde é possível minimizar os problemas.

    Ricardo Richter
    Educador Fisico

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  2. O que dificulta a abordagem do problema é a falta de transparência das entidades médicas e dos profissionais da medicina. Condenam a hormonização em homens cisgênero, mas liberam a hormonização em homens trans. Eu, homem cisgênero, não posso contar com auxílio médico para aumentar minha testosterona para desenvolvimento muscular, mas o homem trans pode aumentar sua testosterona com protocolos desenvolvidos por médicos e com total segurança para sua saúde. Quantas vezes mais testosterona um homem trans precisará receber para gerar caracteres masculinos? 10, 20x mais? E um homem cisgênero para aumentar sua musculatura? 2,5, 3x mais? Matematicamente fica evidente que um homem trans necessitará de muito mais testosterona que um homem cisgênero. Mas, segundo a medicina, somente o homem cisgênero terá sua saúde prejudicada. O homem trans não terá nenhum problema. Num caso libera-se a prática e em outro criminaliza-se. A hipocrisia dos médicos não tem limite!

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