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segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Vitamina K, magnésio e saúde óssea

A vitamina K foi descoberta há quase 100 anos

A vitamina K foi descoberta em 1929 pelo bioquímico Henrik Dam durante experimentos em galinhas submetidas a dietas com pouca gordura. Os animais apresentavam sangramentos e problemas na coagulação, irreversíveis com a interrupção da dieta. Isso levou à descoberta de uma vitamina lipossolúvel (solúvel em gordura) chamada de “Koagulation vitamin”.
A vitamina K1 (filoquinona) é a principal vitamina K consumida na alimentação. Está presente em hortaliças e óleos vegetais, enquanto a vitamina K2 (menaquinona) é a principal vitamina K nos tecidos, incluindo o tecido ósseo. É encontrada em alimentos fermentados como grãos de soja e queijos, e pode ser sintetizada por bactérias presentes no intestino (Lactococcus e Escherischia colli). O alimento tipicamente rico em vitamina K2 é um prato tradicional do Japão chamado natto (imagem abaixo), feito com soja fermentada.

Natto
Imagem: Flickr

A vitamina K tem efeitos no metabolismo do cálcio

A vitamina K atua como cofator essencial na reação de carboxilação de resíduos específicos de ácido glutâmico, permitindo à ligação das proteínas de coagulação ao cálcio. Foram descobertos diversos grupos de proteínas dependentes de vitamina K, que não têm conexão com a coagulação sanguínea, mas estão implicados na homeostasia do cálcio. A osteocalcina é a principal proteína não colágena presente no osso, essencial para a mineralização do esqueleto, e sua forma biologicamente ativa é carboxilada em uma reação catalisada pela vitamina K. Da mesma forma, a proteína MGP (matrix gla protein) presente na parede dos vasos é dependente da carboxilação via vitamina K para exercer sua função como proteína inibidora da calcificação arterial. Assim, a presença de vitamina K na dieta parece ter um papel favorável na formação óssea bem como na redução da calcificação vascular. Mas será que suplementar vitamina K pode trazer benefícios?

A suplementação de vitamina K parece ser útil apenas em populações orientais

De acordo com a National Academy of Sciences, a recomendação diária de vitamina K a ser consumida é de 2 mcg/dia para recém-nascidos, 75 mcg/dia para adolescentes, 90 mcg/dia para mulheres e 120 mcg/dia para homens adultos. No Japão, a vitamina K sintética (menatetrenona) é comercialmente disponível como uma alternativa no tratamento de pacientes com osteoporose na dose mínima efetiva de 45 mg/dia, muito acima da dose diária recomendada. Os possíveis efeitos adversos são desconforto gastrointestinal e diarreia, e o tratamento é contra-indicado para pacientes em uso do anticoagulante varfarina. 
Estudos observacionais e ensaios clínicos, na grande maioria realizados em indivíduos asiáticos, têm demonstrado que o consumo de vitamina K1 e K2 e/ou seus níveis séricos estão associados à redução da osteocalcina descarboxilada, um efeito favorável para o tecido ósseo. Porém os resultados sobre a densidade mineral óssea (DMO) e fraturas são controversos. Em uma meta-análise de 16 ensaios clínicos randomizados, foi observado que a suplementação da vitamina K foi eficaz em melhorar a DMO da coluna lombar, sem diferença no fêmur total. Contudo, na análise de subgrupos, este achado foi confirmado apenas quando foram avaliados indivíduos asiáticos, mulheres e suplementação com K1. Em indivíduos ocidentais, que receberam suplementação com K2, sem osteoporose secundária e em mulheres na pós-menopausa não foi observado efeito favorável sobre a DMO. De forma similar, em uma meta-análise de ensaios clínicos avaliando o efeito da suplementação de vitamina K sobre a ocorrência de fraturas, foram incluídos 7 estudos e o resultado mostrou um efeito favorável à suplementação com redução do risco de fraturas. Contudo, todos os estudos eram com indivíduos japoneses, recebendo doses elevadas de vitamina K (menatetrenona), além da dieta japonesa usualmente rica em vitamina K.

O magnésio tem participação importante metabolismo energético

O magnésio é essencial para todas as células, incluindo as células do tecido ósseo. No meio intracelular, o magnésio é fundamental para síntese de ATP, a principal fonte de energia celular, além de servir como cofator para diversas enzimas envolvidas no metabolismo lipídico e proteico. Aproximadamente 60% do magnésio encontra-se armazenado no esqueleto, servindo como um reservatório para manutenção da concentração extracelular deste íon. 

Sementes e grãos são fontes de magnésio
Fonte: Pixabay
Pode ser consumido através de hortaliças, legumes, castanhas, sementes e grãos. Pela grande disponibilidade na dieta, a deficiência de magnésio costuma ocorrer apenas em condições que afetem significativamente a absorção intestinal ou a função renal. 

Os dados sobre o efeito do magnésio na saúde óssea são bastante controversos

Alguns estudos observacionais têm demonstrado associação entre ingestão alimentar de magnésio e melhor densidade óssea. Contudo, em uma revisão sistemática e meta-análise que incluiu 12 estudos e 17.089 casos de fraturas, não foi observada associação entre a quantidade ingerida de magnésio na dieta e risco de fraturas. Na verdade, em um dos estudos avaliados, a ingestão de magnésio acima da recomendação diária foi associada a maior risco de fraturas, um achado atribuído à fraqueza muscular e hipotensão que podem ocorrer na presença de hipermagnesemia. Mais recente, dados de uma corte americana com 3.765 participantes entre homens e mulheres acompanhados por 8 anos mostraram que a maior ingestão de magnésio alimentar reduziu o risco de fraturas osteoporóticas, especialmente em mulheres.

Ainda não existe evidência suficientemente robusta para justificar a prescrição de vitamina K ou magnésio para melhorar a saúde óssea

Em resumo, a maior parte dos estudos com vitamina K e magnésio são limitados e controversos. Especialmente com relação à vitamina K, os dados são escassos em indivíduos caucasianos, sendo a grande maioria dos estudos em populações asiáticas. Além disso, o tipo de vitamina K e a dose usada nos suplementos administrados são muito variáveis, o que dificulta a interpretação dos resultados. Considerando os dados disponíveis até o momento, faltam evidências para recomendar a utilização de vitamina K e/ou magnésio para prevenção e/ou tratamento de osteoporose. Mais estudos são necessários para avaliar o impacto desta suplementação sobre a massa óssea e o risco de fraturas em diferentes populações.

Referências:
1. Wasilewski GB, Vervloet MG, Schurgers LJ. The Bone-Vasculature Axis: Calcium Supplementation and the Role of Vitamin K. Front Cardiovasc Med. 2019;6:1-16.
2. Iwamoto J. Vitamin K2 Therapy for Postmenopausal Osteoporosis. Nutritients 2014; 6:1971-1980.
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5. Cockayne S, Adamson J, Lanham-New S, Shearer MJ, Gilbody S, Torgerson DJ. Vitamin K and the prevention of fractures: systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Arch Intern Med 2006; 166:1256–61.
6. Palermo A, Tuccinardi D, D'Onofrio L, Watanabe M, Maggi D, Maurizi AR, Greto V, Buzzetti R, Napoli N, Pozzilli P, Manfrini S. Vitamin K and osteoporosis: Myth or reality? Metabolism. 2017;70:57-71. 
7. Castiglioni S, Cazzaniga A, Albisetti W, Maier JAM. Magnesium and Osteoporosis: Current State of Knowledge and Future Research Directions. Nutrients 2013; 5(8):3022-3033.
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9. Veronese N, Stubbs B, Solmi M, Noale M, Vaona A, Demurtas J, Maggi S. Dietary magnesium intake and fracture risk: data from a large prospective study. Br J Nutr. 2017;117(11):1570-1576.

Dra. Tayane Muniz Fighera
Médica Endocrinologista com área de atuação em Densitometria Óssea
CRM-RS 32.014 - RQE 27.144 e 28.021

Texto revisado pelo Departamento de Metabolismo Ósseo e Mineral em agosto de 2019.


Um comentário:

  1. Se o Lair Ribeiro disse que é bom, é bom. Ele estuda todas as meta análises, e cita as fontes. Dou para meus pais e avós há 4 anos, 120 mcg de K2MK7.

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