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sábado, 27 de março de 2021

O papel da Endocrinologia na pandemia da COVID-19

 

                                                    
 Pixabay

Muitos membros desta sociedade fizeram e ainda fazem parte do grupo de profissionais que está atuando incansavelmente na pandemia da COVID-19. Com início em dezembro de 2019 em Wuhan, China, a infecção se propagou e paralisou o mundo, gerando ansiedade, medo e instabilidade. Grande parte dos recursos da saúde foram destinados ao combate da infecção pela COVID-19, e a princípio, a Endocrinologia pouco teria a contribuir com uma doença que afeta primariamente o sistema respiratório. Frente ao agravamento da pandemia, muitos médicos foram deslocados para diferentes setores onde os recursos humanos eram necessários, e colegas que por muito tempo dedicaram-se a estudar e trabalhar em sua área de atuação foram designados para atendimento de pacientes com infecção pela COVID-19. Com isso veio não apenas a exposição biológica pessoal e de familiares, mas também o desafio de prestar um atendimento de qualidade a uma doença desconhecida e potencialmente fatal. Então era necessário substituir os artigos de insuficiência adrenal, metabolismo ósseo e hipotireoidismo por artigos de pneumonia viral, infecção respiratória aguda e sepse. Reduzir ou suspender os atendimentos ambulatoriais e atender emergências e unidades de terapia intensiva. E não foi apenas com a força de trabalho que a Endocrinologia colaborou durante a pandemia. Diabetes e obesidade foram precocemente reconhecidos como fatores associados a maior morbidade e mortalidade em pacientes com pneumonia viral. Nesses casos, o suporte multidisciplinar para melhor controle glicêmico de pacientes internados foi importante e necessário, especialmente pelo uso frequente de corticoides sistêmicos.

A Sociedade de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), frente a uma série de informações desencontradas e de qualidade questionável, buscou posicionar-se em conjunto com outras sociedades médicas através de notas oficiais defendendo o uso de máscaras para reduzir a transmissão do vírus (https://www.endocrino.org.br/sociedades-medicas-pelo-uso-de-mascaras/), informando sobre os riscos do uso indiscriminado de vitamina D (https://www.endocrino.org.br/media/posicionamento_sbem_e_abrasso_-_vitamina_d_e_covid-19_final_(1).pdf; https://www.endocrino.org.br/sbem-e-mp-contra-pseudociencia/) e de dexametasona (https://www.endocrino.org.br/media/comunicado_sbem_dexametasona_e_covid_19.pdf), e apoiando as recomendações de tratamento da COVID-19 baseadas nas melhores evidências disponíveis (https://www.endocrino.org.br/media/carta_apoio_sbi_final.pdf). Além disso, buscou manter eventos de alta qualidade em formato virtual, compatíveis com as circunstâncias atuais.

Neste momento de tristeza e dor, a SBEM deseja homenagear todos os médicos endocrinologistas que estão atuando diretamente na pandemia da COVID-19. É motivo de orgulho ver tantos colegas deslocados de suas áreas de atuação dedicando-se de forma incansável a esta batalha.

Certamente este momento da história ficará na memória de todos. E raros são os momentos da vida em que é possível fazer parte da história. Aos bravos colegas nossa homenagem e reconhecimento em nome de toda a SBEM.

 

Dra Tayane Muniz Fighera

CREMERS 32014/ RQE 27144 - 28021

 

 

quarta-feira, 3 de março de 2021

Hipertensão arterial: o inimigo silencioso do diabético

 

                                                                                                                      Fonte: Pixabay

Doenças cardiovasculares (DCV) são a primeira causa de morte em pacientes com diabetes (DM), sendo o DM um fator de risco independente para DCV. Há, ainda, fatores agravantes que contribuem para aumento do risco cardiovascular destes pacientes, tais como hipertensão, dislipidemia, albuminúria, obesidade e tabagismo, que devem ser sistematicamente pesquisados e controlados, a fim de reduzir o risco destes pacientes.

A hipertensão arterial sistêmica está presente em 40% dos pacientes que recebem diagnóstico de DM. É definida como pressão arterial sustentada igual ou maior a 140/90mmHg, sendo a terapia anti-hipertensiva capaz de reduzir eventos cardiovasculares e a incidência e evolução das complicações microvasculares do DM.

Pacientes com DM tipo 1 e 2 devem ser tratados visando um alvo menor do que 140/90 mmHg. No entanto, este alvo deve ser individualizado de acordo com o risco cardiovascular desses indivíduos. Para pacientes diabéticos com alto risco para doenças cardiovasculares, como aqueles com DCV aterosclerótica estabelecida, ou risco cardiovascular em 10 anos maior ou igual a 15%, deve-se visar um alvo menor do que 130/80mmHg. Pacientes portadores de DM com risco cardiovascular <15% podem ter um alvo menor do que 140/90mmHg. Esse risco pode ser calculado através de ferramentas como tools.acc.org/ASCVD-Risk-EstimatorPlus. No entanto, a terapia anti-hipertensiva deve ser individualizada, pesando os riscos de efeitos colaterais, tais como hipotensão, risco de quedas, hipercalemia e piora de função renal especialmente em pacientes idosos, nefropatas e naqueles com muitas comorbidades e polifarmácia, podendo-se considerar um alvo maior para essa população.  

Em pacientes refratários a mudanças de estilo de vida com nível pressórico entre 140/90 mmHg e 159/99 mmHg, deve-se considerar o início apenas de um anti-hipertensivo. Nível pressórico superior a 160/100mmHg habitualmente requer terapia inicial com associação de duas drogas. As drogas usadas preferencialmente são os bloqueadores do sistema renina-angiotensina-aldosterona, diuréticos tiazídicos e bloqueadores de canais de cálcio dihidropiridínicos. Após introdução de inibidores da da enzima conversora de angiotensina (IECA) e bloqueadores de receptor de angiotensina (BRA), deve-se ter o cuidado de monitorizar os níveis de potássio sérico e função renal, especialmente em idosos e nefropatas. Para pacientes com doença coronariana prévia ou albuminúria (relação albumina/creatinina urinárias >30 mg/g), a terapia inicial deve incluir IECA ou BRA, uma vez que comprovadamente reduzem eventos cardiovasculares e progressão de doença renal crônica. Beta-bloqueadores são indicados se há histórico de infarto miocárdico, angina ou fração de ejeção reduzida.

Para diagnóstico de hipertensão e verificação do controle pressórico, as medidas do auto monitoramento domiciliar e da monitorização ambulatorial da pressão arterial se correlacionam melhor com risco cardiovascular do que as medidas de consultório isoladas.

Como endocrinologistas, devemos ser capazes de diagnosticar e tratar adequadamente não só o DM, como também as comorbidades associadas que podem levar nossos pacientes a desfechos desfavoráveis! Fiquem atentos e acompanhem nossas postagens para saber mais!

DOI:

                                                                                                           Dra Patrícia Moreira Melo

                                                                                                   CRM PI 3484 - RQE 1483/3732