Consumo excessivo de selênio pode ser prejudicial
O selênio é um oligomineral com várias funções biológicas e margem terapêutica estreita, isto é, as doses potencialmente tóxicas estão bem próximas das doses diárias recomendadas para o bom funcionamento no organismo. Logo, a suplementação pode ser útil para algumas pessoas com carência do mineral, mas pode trazer danos à saúde de muitas outras que não são deficientes.
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Fisiologia do selênio
Em seres humanos, a maior parte do selênio encontra-se ligado a aminoácidos: seleno-cisteína (forma ativa) e seleno-metionina (forma de estoque). Em suplementos, o selênio é disponibilizado na forma inorgânica livre. Frutos do mar, vísceras como fígado e rins, e castanha-do-pará são ricos em selênio. Uma única castanha-do-pará proveniente do Amazonas oferece em torno de 180 mcg de selênio, mais de 3 vezes a dose diária recomendada de 55 mcg. Dependendo do teor de selênio presente no solo, diferentes grãos podem ter diferentes concentrações de selênio. Após ingerido, o selênio é prontamente absorvido no duodeno (selênio inorgânico) e intestino delgado (seleno-metionina) independente dos níveis no sangue do indivíduo. Dentro do organismo, o selênio assume sua forma ativa e passa a participar de diferentes funções orgânicas. Já foram identificadas mais de 30 selenoproteínas das quais podemos destacar a glutationa peroxidase (antioxidante) e 3 formas da iodotironina deionidase tipo 2 (participa na fabricação dos hormônios da tireoide).
Consequências da deficiência de selênio
Diferentes estudos associam a deficiência de selênio a diversos problemas de saúde. Alteração no humor, disfunção muscular, alterações no sistema imunológico, câncer e doenças cardiovasculares. Mas quanto uma suplementação rotineira, ou mesmo o uso em pessoas saudáveis, pode ajudar, ainda precisa ser melhor estudado.
Efeitos do selênio na função tireoidiana
A tireoide é o tecido com maior concentração de selênio no corpo humano por expressar deionidades, que, como dito anteriormente, são selenoproteínas. Embora quantidades muito pequenas de selênio já sejam suficientes para manter a produção de hormônios tireoidianos, foi hipotetizado que os níveis de selênio possam ser importantes na regulação do sistema imunológico, que costuma participar no mecanismo de doenças como a tireoidite de Hashimoto (causa de hipotireoidismo) e a doença de Graves (causa de hipertireoidismo). Estudos pequenos e de curta duração mostraram que a suplementação de selênio foi capaz de reduzir os níveis de anticorpos (anti-TPO) além de modificar a estrutura ecográfica da tireoide em pacientes com tireoidite de Hashimoto. No entanto, tal suplementação não influiu na produção hormonal da glândula, isto é, do ponto de vista clínico, não ajudou em nada. Já em mulheres grávidas com elevação dos níveis de anticorpos, a suplementação de selênio ajudou a diminuir a chance de tireoidite pós-parto. Contudo, o estudo foi feito em uma população com alto risco de deficiência de selênio na Itália. Se esse benefício se estende a qualquer mulher em gestação, ainda não podemos afirmar. Por fim, o uso de selênio em pacientes com inflamação leve dos olhos associada ao hipertireoidismo, ou orbitopatia de Graves, parece ter um pequeno benefício.
Risco do uso excessivo de selênio
Nos casos de uso excessivo ou abusivo, a intoxicação por selênio pode causar sintomas com náusea, vômito, queda de cabelo, alterações nas unhas, alterações do estado mental e doença dos nervos (neuropatia), além do aumento do risco de diabetes mellitus tipo 2.
O uso rotineiro de selênio para melhorar a função tireoidiana não é recomendado
Em resumo, apesar do selênio participar da fisiologia da glândula tireoide, até agora, os estudos não foram capazes de mostrar benefícios clínicos que justifiquem seu uso rotineiro. Considerando seu potencial de toxicidade, mais pesquisas precisam ser realizadas para identificar quem realmente poderá ser ajudado por este tipo de tratamento.
Referência:
Drutel A, Archambeaud F, Caron P.Selenium and the thyroid gland: more good news for clinicians. Clin Endocrinol (Oxf). 2013 Feb;78(2):155-64.
Dr. Mateus Dornelles Severo
Médico Endocrinologista
Doutor e Mestre em Endocrinologia pela UFRGS
CRM-RS 30.576 - RQE 22.991
Texto revisado pelo Departamento de Tireoide.